Teoria “U”: Um caminho para inovação e mudança profunda

Muitos líderes e gestores têm enfrentado dificuldades para conseguir as mudanças que desejam, seja devido à complexidade das situações, às diferentes pessoas envolvidas ou à falta de soluções passadas que possam ser reproduzidas. A teoria U é um conjunto de teorias, ferramentas e práticas que podem auxiliar os líderes a enfrentarem os problemas atuais, não apenas intelectualmente, mas através de uma busca mais profunda e que gerem ações inovadoras.

Como uma resposta à dificuldade vivida pelos líderes, a teoria U foi desenvolvida ao longo de quase 15 anos por Otto Scharmer, Adam Kahane, Peter Senge e Joseph Jaworski.

Ela vem sendo utilizada em projetos de diferentes proporções: alguns envolvem apenas uma organização, outros envolvem toda a cadeia produtiva, enquanto outros envolvem todo um país. As mudanças nestes projetos foram obtidas através de processos da teoria U que possibilitam um grupo de pessoas a reconhecer as causas dos problemas atuais e como gerar inovações para resolvê-los.

A teoria U é uma “maneira de desenhar e conduzir profundos processos de aprendizado coletivo”.

A maior capacidade humana é o processo criativo, a capacidade de criarmos novas realidades. A compreensão do processo criativo é a base do domínio genuíno em todos os campos. Todas as grandes descobertas se baseiam em uma profunda jornada interior. Porém, estamos vivendo uma era em que a estrutura social não possibilita que o processo criativo individual e coletivo venha a tona. Estamos presos a estruturas e modos de agir baseados na era industrial onde a observação dos fatos e aplicação dos conhecimentos adquiridos durante a vida são utilizados sem muita flexibilidade, baseados principalmente em modelos já existentes.

O futuro será inevitavelmente muito diferente do passado (contemporizar e resistir), simplesmente porque as tendências predominantes que formaram o desenvolvimento industrial global não têm como ser mantidas por mais tempo. Não é possível continuar a concentrar riqueza em um mundo de crescente interdependência.

            A Teoria “U” propõe que estruturas sociais alternativas podem ser criadas: criar o mundo de novo com base em uma visão radicalmente diferente utilizando nossa capacidade coletiva de “ouvir o sentido de nossa jornada neste mundo” para realiza-la como o próprio mundo deseja. Quando as pessoas estão vivendo em uma realidade em constante mudança, começam a “ver” o que não era visto antes e ver a própria parte em manter o velho e em inibir ou negar o novo, os muros começam a desmoronar.    Quando esse tipo de despertar começa a acontecer, é crucial que as pessoas também “vejam” que o futuro pode ser diferente, para que não fiquem paralisadas pela nova consciência ou reajam de modo que ainda conserve a essência do antigo sistema.

            É possível revelar um terceiro nível de “ver” que desbloqueia nossos níveis mais profundos de compromisso. Mas este processo requer uma mudança na qualidade da percepção. Segundo William O’Brien o sucesso de uma intervenção depende da condição interior do interventor. É no processo de “ver” que a teoria “U” estrutura sua metologia e intervenção.

intervenção

Um recurso-chave da teoria “U” é a conexão das três aberturas – mente, coração e vontade – como um todo inseparável.

            Aprender com o futuro a medida que ele emerge e não apenas focar esforços e atenção a partir dos conhecimentos adquiridos no passado. Aprender com o futuro é essencial para a inovação. Envolve abraçar altos níveis de ambiguidade, incerteza e aceitação de falhas. Envolve se abrir ao inimaginável e as vezes tentar fazer o impossível. Mas os medos e os riscos são equilibrados pelo sentimento de que somos parte de algo importante que está emergindo e de que isso realmente fará diferença. É busca pelo sentido de existência do ser humano que está surgindo como um pedido de socorro diante da esmagadora realidade que impede o surgimento do “Eu” profundo, interior, autentico que não está sujeito as intempéries da vida moderna na qual muitos padrões imperam.

niveis respostas

Estrutura de campo de atenção

            Todos nós utilizamos em toda ação um desses quatro modos diferentes de prestar a atenção. Acessamos uma dessas camadas da consciência quando atuamos sozinhos ou em um grande grupo. Denominamos esses modos de agir de nossas estruturas de campo de atenção. As mesmas atividades podem levar a resultados radicalmente diferentes dependendo da estrutura de atenção a partir da qual determinada atividade é realizada. Em outras palavras, “Eu vejo (desse modo) – portanto, isso emerge (desse outro modo)”. Essa é a dimensão oculta de nosso processo social comum, não fácil ou prontamente entendido, e essa pode ser a alavanca mais subutilizada para uma profunda mudança hoje.

            A Teoria U supõe que a questão central de nosso tempo consista em atingir nosso ponto cego – o lugar interior a partir do qual operamos – por todos os níveis de sistema. Em todos esses níveis, deparamos com a mesma questão: não podemos superar os desafios se não mudarmos nosso estado interior e iluminarmos nosso ponto cego – a fonte de nossa atenção e ação.

O U: um Processo, cinco movimentos

Quando líderes desenvolvem a capacidade de se aproximar dessa fonte, eles experienciam o futuro como se ele estivesse “querendo nascer”- uma experiência chamada “presenciar.” Essa experiência geralmente traz consigo ideias para enfrentar os desafios e trazer à existência um futuro que, de outra forma, seria impossível. A Teoria U mostra como essa capacidade de presenciar pode ser desenvolvida.

Nesta jornada, no fundo do U, reside um portão interno que requer de nós deixar ir tudo que não é essencial. Este processo de DEIXAR IR – de nosso ego e eu antigo e DEIXAR VIR – nossa mais elevada possibilidade futura: nosso EU – estabelece uma sutil conexão com uma fonte de conhecimento mais profunda. A essência da Presença é que estes dois “eus” – nosso eu atual e nosso melhor futuro EU – encontram-se no fundo do U e começam a ouvir e ressonar um com o outro.

 Uma vez que o grupo atravessa este limite, nada permanece o mesmo. Cada um dos membros do grupo como um todo começa a operar com um nível mais elevado de energia e sentido de possibilidade futura. Muitas vezes, eles então começam a funcionar como um veículo intencional para um futuro emergente.

percepcao

A ascensão do espaço social da emergência e da criação

            Muitas vezes vemos como as pessoas em vista da destruição máxima têm a capacidade de despertar para um nível superior de conhecimento e consciência. Todos nós participamos de dois tipos sociais diferentes de conexão, dois corpos diferentes do campo social. Um deles é governado pela dinâmica da antiemergência e destruição; é o corpo social coletivo que está prestes a morrer. O outro é governado pela dinâmica de emergência e criatividade coletiva; é o novo corpo social emergente que está a ponto de nascer. O que acontece em inúmeras situações sociais de violência e conexão hoje é que estamos divididos entre esses dois mundos. Podemos mudar de um espaço (o espaço da criatividade coletiva) para o outro (o espaço da destruição coletiva) em um instante e quase a qualquer tempo e qualquer lugar, e nossa observação dessa mudança depende de quão despertos estamos uma para o outro.

Conclusão

            Somos capazes de alterar as tendências dominantes da era industrial. Essas tendências se baseiam não em leis da física, mas em hábitos humanos, especialmente em hábitos em grande escala. Na medida em que nossa consciência emerge, estamos mais dispostos a colocar em prática o que antes era utópico em nossas vidas pois nossa busca por sentido de vida está inserida nessa tomada de decisão.

            Não somos mais tão vulneráveis aos acontecimentos externos quando em nosso interior residem uma certeza e um caminho a serem seguido baseados na observação de nossa pessoa como um objeto de mudança na qual o mundo caminha. Quando estamos com nossa atenção focada no momento presente, saímos do modelo mental que estamos habituados e descobrimos novas maneiras de lidar com problemas antes insolúveis. Em nosso caminho surgem respostas novas e repletas de significado, pois não são baseadas em fórmulas prontas que limitam nossa imaginação e, principalmente, nosso espírito, maestro de toda criação.